ENTREVISTA
CORAJOSA
RESFRIAMENTO E NÃO AQUECIMENTO GLOBAL
O Prof.
Molion, citado na entrevista do Prof. João Corte Real, realizou conferências e regeu cursos de mestrado de Climatologia, em
Portugal. Recentemente concedeu uma entrevista à revista brasileira ISTOÉ.
A revista ISTOÉ
é uma revista semanal considerada, na sua especialidade, uma das quatro
principais revistas a circular no Brasil. Publica-se a seguir aquela
entrevista, preservando a variedade da língua portuguesa do Brasil.
“Aquecimento
global” é terrorismo climático - Pesquisador
diz que tendência dos próximos anos é o esfriamento da Terra e que efeito
estufa é tese manipulada pelos países ricos.
Por RODRIGO RANGEL
O professor
Luiz Carlos [Baldicero] Molion(**) é
daqueles cientistas que não temem nadar contra a corrente. Na Rio 92 (ou
Eco92), quando o planeta discutia o aumento do buraco na camada de ozônio, ele
defendeu que não havia motivo para tamanha preocupação. Numa conferência,
peitou o badalado mexicano Mario Molina, mais tarde Nobel de Química, um dos
primeiros a fazer o alerta. Agora, a guerra acadêmica de Molion tem outro nome:
aquecimento global. Pós-doutor em meteorologia formado na Inglaterra e nos
Estados Unidos, membro do Instituto de Estudos Avançados de Berlim e
representante da América Latina na Organização Meteorológica Mundial, esse
paulista de 61 anos defende com veemência a tese de que a temperatura do
planeta não está subindo e que a ação do homem, com a emissão crescente de gás
carbônico (CO2) e outros poluentes, nada tem a ver com o propalado aquecimento
global. Boa notícia? Nem tanto, diz. Molion sustenta que está em marcha um
processo de resfriamento do planeta. "Estamos entrando numa nova era
glacial, o que para o Brasil poderá ser pior", pontifica. Para Molion, por
trás da propagação catastrófica do aquecimento global há um movimento dos
países ricos para frear o desenvolvimento dos emergentes. O professor ainda faz
uma reclamação: diz que cientistas contrários à tese estão escanteados pelas
fontes de financiamento de pesquisa.
ISTOÉ - Com base em que o sr. diz que não há aquecimento global?
Molion - É difícil dizer que o aquecimento é global. O Hemisfério Sul é
diferente do Hemisfério Norte, e a partir disso é complicado pegar uma
temperatura e falar em temperatura média global. Os dados dos 44 Estados
contíguos dos EUA, que têm uma rede de medição bem mantida, mostram que nas
décadas de 30 e 40 as temperaturas foram mais elevadas que agora. A maior
divergência está no fato de quererem imputar esse aquecimento às atividades
humanas, particularmente à queima de combustíveis fósseis, como petróleo e
carvão, e à agricultura, atrás da agropecuária, que libera metano. Quando a
gente olha a série temporal de 150 anos usada pelos defensores da tese do
aquecimento, vê claramente que houve um período, entre 1925 e 1946, em que a
temperatura média global sofreu um aumento de cerca de 0,4 grau centígrado. Aí
a pergunta é: esse aquecimento foi devido ao CO2? Como, se nessa época o homem
liberava para a atmosfera menos de 10% do que libera hoje? Depois, no
pós-guerra, quando a atividade industrial aumentou, e o consumo de petróleo
também, houve uma queda nas temperaturas.
ISTOÉ - Qual seria a origem das variações de temperatura?
Molion - Há dez anos, descobriu-se que o Oceano Pacífico tem um modo muito
singular na variação da sua temperatura. Me parece lógico que o Pacífico
interfira no clima global. Primeiro, a atmosfera terrestre é aquecida por
debaixo, ou seja, temos temperaturas mais altas aqui na superfície e à medida
que você sobe a temperatura vai caindo - na altura em que voa um jato
comercial, por exemplo, a temperatura externa chega a 45 ou 50 graus abaixo de
zero. Ora, o Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre. Juntando isso
tudo, claro está que, se houver uma variação na temperatura da superfície do
Pacífico, vai afetar o clima.
ISTOÉ - O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU)
está errado?
Molion - O painel não leva em consideração todos os dados. Outra coisa que
incomoda bastante, e que o Al Gore [exvice- presidente dos EUA e estrela do
documentário Uma verdade inconveniente, sobre mudanças no clima] usa muito, é a
concentração de CO2. O IPCC diz claramente que a concentração atingida em 2005,
de 339 partes por milhão, ou ppm, foi a maior dos últimos 650 mil anos. Isso é
uma coisa ridícula. Eles usam uma série iniciada em 1957 e não fazem menção a
medições de concentração de gás carbônico anteriores. É como se nunca ninguém
tivesse se preocupado com isso. O aumento de CO2 não é um fenômeno novo. Nos
últimos 150 anos, já chegou a 550, 600 ppm. Como é que se jogam fora essas
medidas? Só porque não interessam ao argumento? O leigo, quando vê a coisa da
maneira que é apresentada, pensa que só começaram a medir nos últimos 50 anos.
O Al Gore usou no filme a curva do CO2 lá embaixo há 650 mil anos e, agora,
decolando. Ridículo, palhaço.
ISTOÉ - Esses temores são cíclicos?
Molion - Eu tenho fotos da capa da Time em 1945 que dizia: "O mundo está
fervendo." Depois, em 1947, as manchetes diziam que estávamos indo para
uma nova era glacial. Agora, de novo se fala em aquecimento. Não é que os
eventos sejam cíclicos, porque existem muitos fatores que interferem no clima
global. Sem exagero, eu digo que o clima da Terra é resultante de tudo o que
ocorre no universo. Se a poeira de uma supernova que explodiu há 15 milhões de
anos for densa e passar entre o Sol e a Terra, vai reduzir a entrada de
radiação solar no sistema e mudar o clima. Esse ciclo de aquecimento muito
provavelmente já terminou em 1998. Existem evidências, por medidas feitas via
satélite e por cruzeiros de navio, de que o oceano Pacífico está se aquecendo
fora dos trópicos - daí o derretimento das geleiras - e o Pacífico tropical
está esfriando, o que significa que estamos entrando numa nova fase fria.
Quando esfria é pior para nós.
ISTOÉ - Por que é pior?
Molion- Porque quando a atmosfera fica fria ela tem menor capacidade de reter
umidade e aí chove menos. Eu gostaria que aquecesse realmente porque, durante o
período quente, os totais pluviométricos foram maiores, enquanto de 1946 a 1976
a chuva no Brasil como um todo ficou reduzida.
ISTOÉ - No que isso pode interferir na vida do brasileiro?
Molion - As conseqüências para o Brasil são drásticas. O Sul e o Sudeste devem
sofrer uma redução de chuvas da ordem de 10% a 20%, dependendo da região. Mas
vai ter invernos em que a freqüência de massas de ar polar vai ser maior,
provocando uma freqüência maior de geadas. A Amazônia vai ter uma redução de
chuvas e, principalmente, a Amazônia oriental e o sul da Amazónia vão ter uma
freqüência maior de seca, como foi a de 2005. O Nordeste vai sofrer redução de
chuva. O que mais me preocupa é que, do ponto de vista da agricultura, as
regiões sul do Maranhão, leste e sudeste do Pará, Tocantins e Piauí são as que
apresentam sinais mais fortes. Essas regiões preocupam porque são a fronteira
de expansão da soja brasileira. A precipitação vai reduzir e certamente vai
haver redução de produtividade. Infelizmente, para o Brasil é pior do que seria
se houvesse o aquecimento.
ISTOÉ - A quem interessaria o discurso do "aquecimento"?
Molion - Quando eu digo que muito provavelmente estamos num processo de
resfriamento, eu faço por meio de dados. O IPCC, o nome já diz, é constituído
de pessoas que são designadas por seus governos. Os representantes do G-7 não
vão aleatoriamente. Vão defender os interesses de seus governos. No momento em
que começa uma pressão desse tipo, eu digo que já vi esse filme antes, na época
do discurso da destruição da camada de ozônio pelos CFCs, os compostos de
clorofluorcarbonos. Os CFCs tinham perdido o direito de patente e haviam se
tornado domínio público. Aí inventaram a história de que esses compostos
estavam destruindo a camada de ozônio. Começou exatamente com a mesma fórmula
de agora. Em 1987, sob liderança da Margaret Thatcher, fizeram uma reunião em
Montreal de onde saiu um protocolo que obrigava os países subdesenvolvidos a
eliminar os CFCs. O Brasil assinou. Depois, ficamos sabendo que assinou porque
foi uma das condições impostas pelo FMI para renovar a dívida externa
brasileira. É claro que o interesse por trás disso certamente não é
conservacionista.
ISTOÉ - Mas reduzir a emissão de CFCs não foi uma medida importante?
Molion - O Al Gore no filme dele diz "nós resolvemos um problema muito
crucial que foi a destruição da camada de ozônio". Como resolveram, se
cientistas da época diziam que a camada de ozônio só se recuperaria depois de
2100? Na Eco 92, eu disse que se tratava de uma atitude neocolonialista. No
colonialismo tradicional se colocam tropas para manter a ordem e o domínio. No
neocolonialismo a dominação é pela tecnologia, pela economia e, agora, por um
terrorismo climático como é esse aquecimento global. O fato é que agora a
indústria, que está na Inglaterra, França, Alemanha, no Canadá, nos Estados
Unidos, tem gases substitutos e cobra royalties de propriedade. E ninguém fala
mais em problema na camada de ozônio, sendo que, na realidade, a previsão é de
que agora em outubro o buraco será um dos maiores da história.
ISTOÉ - O sr. também vê interesses econômicos por trás do diagnóstico do
aquecimento global?
Molion - É provável que existam interesses econômicos por detrás disso, uma
vez que os países que dominam o IPCC são os mesmos países que já saíram
beneficiados lá atrás. O aumento de CO2 não é novo. Nos últimos 150 anos, já
atingiu 600 ppm. Mas o Al Gore usou a curva do CO2 de 650 mil anos atrás.
ISTOÉ - Não é teoria conspiratória concluir que há uma tentativa de frear o
desenvolvimento dos países emergentes?
Molion - O que eu sei é que não há bases sólidas para afirmar que o homem seja
responsável por esse aquecimento que, na minha opinião, já acabou. Em 1798,
Thomas Malthus, inglês, defendeu que a população dos países pobres, à medida
que crescesse, iria querer um nível de desenvolvimento humano mais adequado e
iria concorrer pelos recursos naturais existentes. É possível que a velha teoria
malthusiana esteja sendo ressuscitada e sendo imposta através do aquecimento
global, porque agora querem que nós reduzamos o nosso consumo de petróleo,
enquanto a sociedade americana, sozinha, consome um terço do que é produzido no
mundo.
ISTOÉ - Para aceitar a tese do sr., é preciso admitir que há desonestidade
dos cientistas que chancelam o diagnóstico do aquecimento global...
Molion - Eu digo que cientistas são honestos, mas hoje tem muito mais dinheiro
nas pesquisas sobre clima para quem é favorável ao aquecimento global. Dinheiro
que vem dos governos, que arrecadam impostos das indústrias que têm interesse
no assunto. Muitos cientistas se prostituem, se vendem para ter os seus
projetos aprovados. Dançam a mesma música que o IPCC toca.
ISTOÉ - O sr. se considera prejudicado por defender a linha oposta?
Molion - Na Eco 92, eu debati com o Mario Molina, que foi quem criou a
hipótese de que os clorofluorcarbonos estariam destruindo o ozônio. Ele, em
1995, virou prêmio Nobel de Química. E o professor Molion ficou na geladeira.
De 1992 a 1997 eu não fui mais convidado para nenhum evento internacional. Eu
tinha US$ 50 mil que o Programa das Nações Unidas havia repassado para fazer
uma pesquisa na Amazônia e esse dinheiro foi cancelado.
ISTOÉ - O cenário que o sr. traça inclui ou exclui o temor de cidades
litorâneas serem tomadas pelo aumento do nível dos oceanos?
Molion - Também nesse aspecto, o que o IPCC diz não é verdade. É possível que,
com o novo ciclo de resfriamento, o gelo da Groenlândia possa aumentar e pode
ser até que haja uma ligeira diminuição do nível do mar.
ISTOÉ - Pela sua tese, seria o começo de uma nova era glacial?
Molion - Como já faz 15 mil anos que a última Era Glacial terminou, e os
períodos interglaciais normalmente são de 12 mil anos, é provável que nós já
estejamos dentro de uma nova era glacial. Obviamente a temperatura não cai
linearmente, mas a tendência de longo prazo certamente é decrescer, o que é mau
para o homem. Eu gostaria muito que houvesse realmente um aquecimento global,
mas na realidade os dados nos mostram que, infelizmente, estamos caminhando
para um resfriamento. Mas não precisa perder o sono, porque vai demorar uns 100
mil anos para chegar à temperatura mínima. E quem sabe, até lá, a gente não
encontre as soluções para a humanidade.
Nota:
**Luiz Carlos Baldicero Molion
Possui graduação em Física pela Universidade
de São Paulo (1969), PhD em Meteorologia, University of Wisconsin, Madison
(1975), pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, Institute of Hydrology,
Wallingford, UK (1982) e é fellow do Wissenschftskolleg zu Berlin, Alemanha
(1990). É Pesquisador Senior aposentado do INPE/MCT e atualmente Professor
Associado da Universidade Federal de Alagoas, professor visitante da Western Michigan
University, professor de pós graduação da Universidade de Évora, Portugal. Tem experiência
na área de Geociências, com ênfase em Dinamica de Clima, atuando principalmente
em variabilidade e mudanças climáticas, Nordeste do Brasil e Amazonia, e nas
áreas correlatas energias renováveis, desenvolvimento regional e dessalinização
de água. É membro do Grupo Gestor da Comissão de Climatologia, Organização Meteorológica
Mundial (MG/CCl/WMO).
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