O Mundo Agora - 09 DE SETEMBRO DE 2014
Os americanos não querem mais ser a polícia do mundo

Barack Obama anunciou que vai revelar, na véspera do aniversário dos atentados do 11 de setembro, a sua estratégia para combater e vencer o dito “Estado Islâmico”. Já era tempo. Poucos dias atrás o presidente americano declarava simplesmente que ainda não tinha nenhum plano para enfrentar esse movimento terrorista – e particularmente bárbaro – que já controla um enorme território no norte do Iraque e da Síria, e ameaça todos os Estados e governos do Oriente Médio, grandes e pequenos.
Obama vem sendo cada vez mais criticado pela sua tendência em protelar decisões difíceis, sobretudo quando envolvem o uso da força. “Não fazer besteira” é o mote da Casa Branca, escaldada pelos arroubos guerreiros irresponsáveis do antigo presidente Georges W. Bush. O primeiro mandatário negro dos Estados Unidos foi eleito para acabar com as guerras do seu antecessor e trazer de volta os “rapazes” para casa. E não está nada a fim de se empantanar em novos conflitos em regiões que o americano médio não sabe nem o nome. O problema é que o bonde do mundo e as ameaças não param para americanos descerem, e que de tanto não fazer nada para não fazer besteira cria-se besteiras ainda maiores.
Implosão do Oriente Médio
A emergência do perigoso “Estado Islâmico” tem muito a ver com a recusa de ajudar a oposição síria a derrubar a ditadura de Bachar Al-Assad, deixando apodrecer a situação e abrindo o caminho para a barbárie terrorista islamita. Tem também a ver com a retirada total e rápida dos últimos contingentes americanos do Iraque, deixando o presidente xiita Ali Al-Maliki com as mãos livres para impor uma política sectária contra a população sunita, jogando-a nos braços dos combatentes do Estado Islâmico.
Sem falar na vista grossa de Washington sobre o apoio financeiro e até militar das monarquias sunitas do Golfo a todos os movimentos islamitas ultrafundamentalistas da região. Com medo do Irã xiita e seus aliados na Síria, no Líbano e no Iraque, a Arábia Saudita ou o Catar acabaram favorecendo uma insurreição sunita que se transformou num verdadeiro “Frankenstein” militar-religioso que está provocando a implosão da região inteira.
E não foi só no Oriente Médio que Obama deixou de agir. O presidente americano não quis reagir seriamente à invasão da Geórgia pela Rússia em 2008. Também recuou na hora de cumprir a própria ameaça de punir o governo sírio pela utilização de armas químicas. Um governo defendido com unhas e dentes por Moscou. Não foi, portanto ilógico quando Vladimir Putin decidiu violar todas as regras do direito internacional anexando a Crimeia e intervindo militarmente no Leste da Ucrânia. E mesmo assim a resposta da Casa Branca foi só umas poucas sanções econômicas que por enquanto só fizeram cócegas aos hierarcas do Kremlin. A Ucrânia atacada e invadida não recebeu nem um começo de apoio militar consistente.
Grande coalizão
Na verdade, estamos assistindo à definição de uma nova doutrina estratégica para os Estados Unidos cansados de guerra e de ter que assumir responsabilidades pelos outros. Os americanos não querem mais ser a polícia do mundo. Agora, só vão mandar tropas quando considerarem que seus interesses imediatos estão em jogo, e os outros que se virem... ou se danem.
A idéia de Obama é que doravante os aliados terão que assumir a própria segurança. Os americanos poderão até ajudar com bombardeios e material, mas soldadinhos morrendo é para quem está na primeira linha. Contra o Estado Islâmico, Obama quer uma grande coalizão dos países árabes e dos europeus para combater os terroristas islâmicos.

E com relação à Ucrânia, o presidente americano está promovendo o renascimento da Aliança Atlântica e exigindo que a Europa aumente seus orçamentos militares e tome a dianteira no apoio ao governo de Kiev. Sem o poder militar americano garantindo, não pode haver estabilidade estratégica no planeta, mas os americanos não estão mais a fim de assumir o papel de mercenários para aqueles que não fazem nada, ou entram em qualquer aventura, com a certeza de que se a coisa der errado sempre vai vir a cavalaria do Tio Sam para tirá-los do buraco.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog