Os americanos não querem mais ser
a polícia do mundo
Barack Obama
anunciou que vai revelar, na véspera do aniversário dos atentados do 11 de
setembro, a sua estratégia para combater e vencer o dito “Estado Islâmico”. Já
era tempo. Poucos dias atrás o presidente americano declarava simplesmente que
ainda não tinha nenhum plano para enfrentar esse movimento terrorista – e
particularmente bárbaro – que já controla um enorme território no norte do
Iraque e da Síria, e ameaça todos os Estados e governos do Oriente Médio,
grandes e pequenos.
Obama vem sendo cada vez mais criticado
pela sua tendência em protelar decisões difíceis, sobretudo quando envolvem o
uso da força. “Não fazer besteira” é o mote da Casa Branca, escaldada pelos
arroubos guerreiros irresponsáveis do antigo presidente Georges W. Bush. O
primeiro mandatário negro dos Estados Unidos foi eleito para acabar com as
guerras do seu antecessor e trazer de volta os “rapazes” para casa. E não está
nada a fim de se empantanar em novos conflitos em regiões que o americano médio
não sabe nem o nome. O problema é que o bonde do mundo e as ameaças não param
para americanos descerem, e que de tanto não fazer nada para não fazer besteira
cria-se besteiras ainda maiores.
Implosão do Oriente Médio
A emergência do perigoso “Estado
Islâmico” tem muito a ver com a recusa de ajudar a oposição síria a derrubar a
ditadura de Bachar Al-Assad, deixando apodrecer a situação e abrindo o caminho
para a barbárie terrorista islamita. Tem também a ver com a retirada total e
rápida dos últimos contingentes americanos do Iraque, deixando o presidente
xiita Ali Al-Maliki com as mãos livres para impor uma política sectária contra
a população sunita, jogando-a nos braços dos combatentes do Estado Islâmico.
Sem falar na vista grossa de Washington
sobre o apoio financeiro e até militar das monarquias sunitas do Golfo a todos
os movimentos islamitas ultrafundamentalistas da região. Com medo do Irã xiita
e seus aliados na Síria, no Líbano e no Iraque, a Arábia Saudita ou o Catar
acabaram favorecendo uma insurreição sunita que se transformou num verdadeiro
“Frankenstein” militar-religioso que está provocando a implosão da região
inteira.
E não foi só no Oriente Médio que Obama
deixou de agir. O presidente americano não quis reagir seriamente à invasão da
Geórgia pela Rússia em 2008. Também recuou na hora de cumprir a própria ameaça
de punir o governo sírio pela utilização de armas químicas. Um governo
defendido com unhas e dentes por Moscou. Não foi, portanto ilógico quando Vladimir
Putin decidiu violar todas as regras do direito internacional anexando a
Crimeia e intervindo militarmente no Leste da Ucrânia. E mesmo assim a resposta
da Casa Branca foi só umas poucas sanções econômicas que por enquanto só
fizeram cócegas aos hierarcas do Kremlin. A Ucrânia atacada e invadida não
recebeu nem um começo de apoio militar consistente.
Grande coalizão
Na verdade, estamos assistindo à
definição de uma nova doutrina estratégica para os Estados Unidos cansados de
guerra e de ter que assumir responsabilidades pelos outros. Os americanos não
querem mais ser a polícia do mundo. Agora, só vão mandar tropas quando
considerarem que seus interesses imediatos estão em jogo, e os outros que se
virem... ou se danem.
A idéia de Obama é que doravante os
aliados terão que assumir a própria segurança. Os americanos poderão até ajudar
com bombardeios e material, mas soldadinhos morrendo é para quem está na
primeira linha. Contra o Estado Islâmico, Obama quer uma grande coalizão dos
países árabes e dos europeus para combater os terroristas islâmicos.
E com relação à Ucrânia, o presidente
americano está promovendo o renascimento da Aliança Atlântica e exigindo que a
Europa aumente seus orçamentos militares e tome a dianteira no apoio ao governo
de Kiev. Sem o poder militar americano garantindo, não pode haver estabilidade
estratégica no planeta, mas os americanos não estão mais a fim de assumir o
papel de mercenários para aqueles que não fazem nada, ou entram em qualquer
aventura, com a certeza de que se a coisa der errado sempre vai vir a cavalaria
do Tio Sam para tirá-los do buraco.
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